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Foto do escritorPai Marcelo de Xangô

Lideranças Religiosas confeccionam carta pública ao Prefeito Eduardo Paes cobrando medidas concretas para reconhecer e valorizar a contribuição das religiões de matrizes africanas em Copacabana

O chamado para que o Prefeito Eduardo Paes se posicione sobre o apagamento das religiões de matriz africana no espaço público, especialmente nos eventos como o Réveillon de Copacabana, levanta um ponto crucial sobre a visibilidade e o respeito à diversidade religiosa no Brasil.


É fundamental reconhecer a contribuição das religiões de matriz africana para a formação cultural brasileira, destacando sua importância histórica e a presença marcante em locais como Copacabana.


É importante que o gestor público tenha o compromisso com a diversidade religiosa e a inclusão de todas as comunidades, garantindo que todas se sintam representadas e respeitadas.


Pedimos a todos que assinem a Carta Pública através do LINK abaixo e ajudem o movimento compartilhando em seus grupos sociais.




Carta Aberta ao Excelentíssimo Sr. Prefeito da cidade do Rio de Janeiro

Assunto: Sobre equidade em relação a Liberdade Religiosa e o Direito à Cidade, em relação as Religiões de Matrizes Africanas


Excelentíssimo Sr Prefeito Eduardo Paes,

nos dirigimos à Vossa Senhoria com profunda indignação diante do contínuo apagamento das religiões de matrizes africanas no espaço público da nossa cidade, em especial no que tange às celebrações do réveillon em Copacabana.

Um local historicamente marcado pela presença e pela espiritualidade do Povo de Terreiro.


As festas do dia 31 de dezembro na orla carioca e em Copacabana saudando Iemanjá, tem origem na década de 50, com Tatá Tancredo da Silva Pinto, líder religioso, músico e sambista, figura importante da cultura carioca. Esses eventos popularizaram a Umbanda, fortalecendo-a diante da perseguição da época.


No início da década de 60, Tata Tancredo decidiu realizar encontros de grupos de religiosos na praia de Copacabana visando diminuir os preconceitos existentes.


Na década de 70 e 80, a participação de Terreiros no dia 31 de dezembro se popularizou.

Famílias iam as praias para saudar Iemanjá.

O hábito carioca de comemorar a virada do ano na praia, virou uma tradição, com pessoas de diferentes crenças indo buscar prosperidade para o ano que se iniciava, participando dos rituais, jogando flores no mar, vestindo-se de branco, simbolizando a paz. (1)


Até a década de 90 essa era uma prática comum, a partir de 1987, isso começa a ter outros contornos, com shows pirotécnicos a partir dos hotéis, depois megashows, para atrair turistas e lotar os hotéis.

Os atabaques começaram a ser silenciados e os terreiros buscaram alternativas para continuar batendo, em dias anteriores ao dia 31, em outras praias.


Nas palavras de Simas, historiador: “ A festa, que era um potente evento da cultura, anda sucumbindo aos ditames da cultura do evento, aquela que espetaculariza tudo como simulacro. Tem até pacote turístico que já inclui o barquinho de Iemanjá e revista de celebridade que monta cercadinho com jogo de búzios fashion. Curioso é que ninguém brinca de simulação da Missa do Galo.”(2)


Nas últimas duas décadas, as religiões de Matrizes Africanas vem tentando resgatar essa tradição, mas sempre esbarram na cultura do evento, para que esta retorne.

Essa exclusão representa mais do que a negação de um direito, é um verdadeiro epistemicídio. O assassinato das epistemologias, das sabedorias e das tradições que foram trazidas ao Brasil por nossos ancestrais africanos.

O direito de celebrar, manifestar e perpetuar essas práticas foi garantido pela Constituição Federal de 1988, que assegura a liberdade religiosa e a laicidade do Estado.

Contudo, na prática, os Povos de Terreiro enfrentam preconceito, discriminação e violência simbólica, que se materializam na restrição ao uso de espaços públicos, como a praia de Copacabana, que deveria ser um lugar de todos.


É inadmissível que aqueles que deram origem ao espírito de celebração e renovação, que hoje atrai turistas do mundo inteiro, sejam tratados com descaso e exclusão.

É preciso lembrar que a cidade do Rio de Janeiro, com toda a sua riqueza cultural, deve sua pluralidade e beleza à resistência e à luta dos povos afro-brasileiros.


Foi com espanto e indignação que vimos que neste ano haverá um palco de cultura gospel, que nas palavras de vossa sra : _“Esse palco é o meu xodó. O réveillon é uma festa de todas as religiões”. (3)

Como falar disso se as religiões de matrizes africanas, que deram origem a essa tradição, são excluídas ? Aonde está um palco para nossos cantores populares que também louvam nosso Sagrado ? Existe eqüidade religiosa na festa promovida pela Prefeitura (palco idêntico, nas mesmas dimensões, com a mesma estrutura e recursos)?


Diante disso, solicitamos que a Prefeitura tome medidas concretas para reconhecer e valorizar a contribuição das religiões de matrizes africanas na formação da identidade cultural carioca.


Visando o diálogo que sempre nos norteou, apesar das inúmeras perseguições e violências que até hoje nos atingem, propomos:

Que seja garantido o direito de ocupação da praia de Copacabana pelas religiões de matrizes africacanas no Réveillon.

Que seja destinado um palco para cantores populares das religiões de Matrizes Africanas.

Que sejam realizadas campanhas educativas para combater a intolerância religiosa e promover o respeito à diversidade Religiosa na cidade.

Que sejam criadas políticas públicas de proteção aos Povos de Terreiro e implementadas de fato, assegurando que possam praticar livremente suas crenças sem medo de perseguição ou exclusão.


Excelentíssimo Prefeito, o Rio de Janeiro tem uma história profundamente ligada à ancestralidade africana. Não há futuro para uma cidade que apaga suas raízes e silencia os que há séculos constroem e sustentam a sua cultura. Que esta carta seja um chamado à reflexão e à ação.

É de suma importância, resgatar nas areias da praia de Copacabana nossos cantos, sons e ofertas às águas. A nossa celebração que outrora foi o despertar para potencializar a cidade do Rio como referência na virada de ano, não pode ser esquecida ou apagada.

Este resgate se faz urgente!


Atenciosamente,

Instituição, nome


(1) A história do Reveillon em Copacabana e o papel de Tata Tancredo da Silva Pinto, podem ser lidos nos livros: "Marchar não é Caminhar" de Ivanir dos Santos, e "Umbandas: uma história do Brasil." de Luiz Antonio Simas.

(2)Essa frase pode ser encontrada em: https://museumbanda.mus.br/a-invecao-do-ano-novo-carioca/

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